
(Sávio Assad)
Quem disse isso?
Quem ousou a pronunciar essas palavras tão irreais?
Certamente não precisou imigrar para terras distantes.
Não precisou abandonar familiares forçosamente.
Quem disse isso?
Não sentiu no seu próprio corpo o abate do chicote.
Não passou fome e sede em campos de concentração.
Não rolou uma lágrima dos olhos sedentos de vingança.
Quem disse isso?
Não dormiu em gaiolas improvisadas, feito bicho acuado.
Não viu o filho trabalhar sobre o açoite e sangrar as mãos.
Não olhou para o céu pedindo por um pouco de paz.
Quem disse isso?
Não viu o caminhar lento e taciturno, para masmorra.
Certamente não viu o corpo de seu irmão se desintegrar
em fumaça e suas roupas sujas e rasgadas erguerem em labaredas.
Quem disse isso?
Certamente carrega em seu peito um coração
gelado, que ainda hoje luta por pedaço de pão que não
lhe pertence e se sente puro de raça e credo.
Niterói - Rio de Janeiro - 18/09/2009
http://recantodasletras.uol.com.br/pensamentos/1818404
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